Paulo Rogério Fernandez – Diretor executivo do Grupo Zeppini
Entrevista concedida a Silvana Orsini e Sérgio Toledo

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São Paulo, 2 de janeiro de 2009 – O futuro do mercado de energia solar no Brasil é promissor. De acordo com o diretor executivo do Grupo Zeppini, Paulo Rogério Fernandez, o Brasil tem um potencial enorme e “Só depende de um início.” A companhia lançou, em 25 de setembro do ano passado a Energia Z, que comercializa soluções em geração de energia solar. A nova empresa investiu inicialmente R$ 1 milhão em pesquisa e teve o apoio da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em cooperação com a área de engenharia do Grupo Zeppini.

“A partir do momento em que a energia elétrica fotovoltaica for experimentada e os benefícios mensurados, o crescimento se dará na mesma ordem, já que o potencial é enorme.”

De olho nesse mercado, a Energia Z lançou novas propostas nesse segmento, como a Motor Z e o Eletroposto. A primeira fabrica scooters movidas à eletricidade. A outra realiza a carga de abastecimento das baterias das scooters. “Pela evolução tecnológica apresentada, o veículo elétrico estará no cenário urbano mesclado com outras soluções.”

Leia e assista a entrevista.

Investnews – Qual a proposta da nova empresa?

Paulo Rogério Fernandez – A Energia Z foi estabelecida para trazer uma opção de energia solar ao mercado brasileiro. Muitos conhecem essa opção, sabem que existe, mas não sabem exatamente como chegar até ela. A Energia Z tem a proposta de dar acesso a essa alternativa.

Investnews – Qual o potencial da energia solar no Brasil?

Paulo Rogério Fernandez – Ainda é difícil de ser dimensionado. Se tomarmos por base países onde essa tecnologia está sedimentada, como a Alemanha, por exemplo, que desde 2000 trabalha com planos de incentivos específicos para que essa matriz seja desenvolvida, a geração equivale a uma Angra 2 por ano. O Brasil tem um potencial enorme, que depende de um início. Essa é a proposta da Energia Z: oferecer e integrar soluções até que o mercado lide com isso de uma forma mais usual.

Investnews – Então é viável? Paulo Rogério Fernandez – É viável por vários aspectos. Nesse primeiro momento, buscamos formas para as pessoas considerarem esse tipo de matriz energética. Existe um movimento de sustentabilidade, que é muito importante. A categoria energia é a que dá o maior número de créditos para edifícios que desejam obter uma certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design, que certifica edifícios verdes). Nesse caso, a geração de energia elétrica por painéis fotovoltaicos atende essa necessidade.

Em alguns casos, empresas e instituições precisam dar essa resposta para o seu consumidor. Outras entendem que é uma forma de agregar valor nas atividades. Em outros casos, regiões isoladas dependem absolutamente dessa solução para obter energia.

Investnews – Quanto a empresa investiu para entrar nesse mercado?

Paulo Rogério Fernandez – No total, US$ 1 milhão. O investimento foi para integrar duas estações solares. Temos no edifício da nossa metalúrgica, Fundição Estrela, e outra integrada na Motor Z, empresa de veículos elétricos, que são abastecidos com energia, que batizamos de Eletroposto. Também investimentos em capacitação de pessoal, engenharia, representantes comerciais, pós-venda, treinamento e instaladores.

Investnews – Como é a instalação dos produtos e serviços?

Paulo Rogério Fernandez – A instalação de um sistema fotovoltaico passa por algumas fases. O interessado recebe um direcionamento. Depois disso, a Energia Z dá suporte na parte de projeto e instalação. Por ser um mercado jovem, a Energia Z cobre todas as fases de integração para ser tangível para quem quer dispor dessa solução.

Investnews – É possível mensurar a redução de impactos no meio ambiente ao usar essa energia?

Paulo Rogério Fernandez – Há possibilidade de avaliação em diversos sentidos. Se comparar uma matriz de carvão com uma fotovoltaica, é uma situação. Uma matriz hidrelétrica para fotovoltaica é outra bem diferente. Termelétrica, uma intermediária.

A energia elétrica fotovoltaica é gerada no ponto onde é consumida: no telhado de uma casa, na cobertura de um edifício. Não existem transmissão, nem imobilização de áreas produtivas e nem alagamentos. A integração de uma estação solar, não é precedida de um estudo sócio-econômico-ambiental, justamente por não se envolver nessa questão.

O impacto ambiental de uma estação solar é zero. E ainda tem a vantagem de a mensuração do pay back energético ser fácil. Significa calcular o quanto de energia elétrica se gasta para fazer um painel. Depois, por quanto tempo ele precisa produzir energia para pagar essa conta.

Um painel fotovoltaico tem um pay back energético da ordem de um ano e meio. Ou seja, em um ano e meio de geração de energia elétrica paga, em energia, o que gastou para ser produzido.

Como esses sistemas têm uma vida útil, sem manutenção, de no mínimo 20 anos, o retorno energético é muito significativo. É uma solução diferenciada.

Investnews – O que são os painéis fotovoltaicos?

Paulo Rogério Fernandez – De uma forma bem simples, são placas, normalmente de vidro, integradas por duas lâminas de silício muito finas. Quando a irradiação solar atinge essa lâmina, existe uma diferença de potencial, que gera energia elétrica e é captada através da fiação.

A energia é captada com determinada propriedade, passa por um conjunto de painéis de inversores, que fazem uma cópia da rede interna.

Investnews – Quais são as perspectivas do mercado de energia solar para 2009?

Paulo Rogério Fernandez – São muito positivas. Apesar de o mercado não existir, nossa afirmação surge em decorrência de outra avaliação. Em 2007, tínhamos no Brasil apenas uma solicitação de certificação Leed. Era uma edificação que tinha o interesse de mostrar através de um certificado seu grau de sustentabilidade. Em 2008, o número passou de 60. O crescimento é exponencial. A partir do momento em que a energia elétrica fotovoltaica for experimentada e os benefícios mensurados, o crescimento se dará na mesma ordem, já que o potencial é enorme.

Investnews – O cenário econômico passa por um momento turbulento. A crise vai afetar ou já afetou esse mercado?

Paulo Rogério Fernandez – É um momento de forte turbulência e as turbulências trazem incertezas. Não podemos ignorar isso. Mas acreditamos na eficiência da solução, por isso não modificamos nossa expectativa de crescimento tanto para energia elétrica quanto para nossos outros negócios.

Investnews – Até porque se os investimentos em meio ambiente forem reduzidos, os impactos no futuro serão bem maiores.

Paulo Rogério Fernandez – Exatamente. Esses temas continuam sendo discutidos. A opção da energia elétrica fotovoltaica é uma contribuição significativa para a qualidade ambiental. Isso está relacionado ao padrão de comportamento social. Hoje, se recebêssemos a notícia: “O Brasil nunca mais terá problemas energéticos. Encontramos uma hiper mina de carvão, vamos queimar tudo e gerar energia elétrica.” Provavelmente, a sociedade não aceitaria, porque existe um processo de alteração do comportamento. A energia fotovoltaica vai ao encontro desse anseio.

Investnews – Anteriormente, você falou do Eletroposto. O que é isso?

Paulo Rogério Fernandez – Dentro do Grupo Zeppini há uma empresa chamada Motor Z, que fabrica motonetas e scooters movidas a propulsão elétrica. Como parte do show room da Energia Z, construímos na frente do edifício uma cobertura de painéis fotovoltaicos suficiente para abrigar três veículos. Essa cobertura está integrada na rede da Motor Z, e dá a primeira carga de bateria de todos os veículos. É efetivamente um eletroposto. Toda a energia gerada vai para o abastecimento de um veículo.

O que se gera de energia nessa pequena área quadrada é equivalente a 10 mil km por mês. São 250 cargas mensais, a uma média de 40 km/h, adotando as perdas intrínsecas de um veículo parado.

Investnews – E como as motos são abastecidas?

Paulo Rogério Fernandez – O abastecimento de um veículo elétrico se dá pela ligação de uma tomada na rede, como um celular ou um lap top. Entretanto, existe uma fundamentação no Grupo Zeppini, que esse pode ser um meio muito interessante de abastecimento do veículo elétrico de uso público, e não privado, como é o caso da nossa empresa.

Temos visto diversas iniciativas como a Renault-Nissan, que assinou contratos com governos de Israel, Portugal e Espanha para prover o veículo elétrico e desenvolver a estrutura de abastecimento desses veículos.

Se forem veículos leves, como é o caso da Motor Z, não é preciso carregar o veículo em uma tomada. Simplesmente, o pacote de bateria pode ser trocado. A pessoa chega a um ponto de abastecimento, tira a caixa de bateria, coloca uma nova, paga a tarifa e vai embora. O pack de baterias é transitório e não do veículo. É como se trocasse um tanque sem gasolina por um tanque com gasolina.

Investnews – Qual a expectativa de adesão desse tipo de veículo?

Paulo Rogério Fernandez – Nós temos um público-alvo. Um veículo leve, no caso uma scooter, movido a eletricidade é muito mais um paradigma do que um produto, apesar de o crescimento da adesão ser acelerado.

E esse público tem usado esses veículos para várias circunstâncias: uma boa parte para lazer e outra para pequenos deslocamentos dentro do bairro. Mas asseguro que, pela evolução tecnológica apresentada, o veículo elétrico estará no cenário urbano mesclado com outras soluções.

Não digo que ele será tão onipotente e onipresente como o veículo a combustão, mas seguramente, vai compor o cenário.

Investnews – Quais são os projetos da Energia Z para o futuro?

Paulo Rogério Fernandez – Além das atividades iniciais, que visam a sedimentar o interesse para uma fração da matriz energética, temos acordos formalizados, que em três anos, que é o tempo que imaginamos que vai levar um consumo interno mínimo, para implementar uma unidade de fabricação de painéis solares no Brasil.

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